No início do processo de pesquisa de Paisagens Corporais, nos chamava muita a atenção o fato do cerrado ser o berço da águas do país. Como
se lá no coração rachado pela seca, jorrassem águas azuis que se esparramavam
pelo Brasil a fora.
Esta imagem do
cerrado como berço das águas nos fez entrar em uma peregrinação interna,
passando por nossas partes secas e áridas, em busca de nossas nascentes.
No primeiro semestre de pesquisa - jan a jun de 2012- a observação do ambiente natural foi de fundamental
importância para a tônica do trabalho.
Três imagens ficaram muito presentes:
· os ipês – que no
auge da agonia da seca, choram flores;
· a ecdise e o
canto das cigarras – o abandono das velhas estruturas e o canto eufórico em
busca de seus pares, anunciando a chuva;
· a revoada das
aleluias - que também saem da terra,
aladas e frenéticas, em busca de seu par.
Aqui em Goiânia,
quando vemos um ipê florido, aprendemos a ver beleza nas coisas áridas. E
quando ouvimos uma cigarra, ou quando presenciamos uma revoada de aleluias,
bate um alívio: a chuva está chegando... Aleluia!! Uma mistura de fé na vida com uma saudade... No meu caso, saudade de meus entes queridos que estão mais distantes... Seria a busca pelo meu par?
As três imagens
tinham algo em comum, que nos era precioso enquanto imagem poética: uma forte relação
com a terra e busca dos céus, a sublimação.
Os ipês contavam da importância dos tempos áridos,
as cigarras e aleluias cantavam os segredos da esperança e da fé.
Para nós, tais imagens eram
metáfora da peregrinação humana, em busca do essencial, em busca do sagrado. Era nossa caçada começando a surgir...
E
no umbigo dessa busca, desta caça, águas jorravam e emoções transbordavam.
E fomos parar em Colinas do Sul, para caçar a Rainha e aguçar nossa fé nas coisas simples, e depois seguimos para a comunidade Kalunga do engenho 2, em busca da força Kalunga e das águas de Santa Bárbara.
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