No início do processo de pesquisa de Paisagens Corporais, um
dos aspectos que nos chamou bastante atenção foi essa peculiaridade do Cerrado
ser o berço das águas do país. De dentro de um coração quase racha em períodos
de secas jorram águas azuis e cristalinas que se alastram e nutrem terras por
todo o Brasil. Sutilmente, esta imagem-sugestão do Cerrado como berço das águas
começou a nos despertar um sentimento de 'busca', e fomos conduzidos
por peregrinações internas e subjetivas, lançando novas raízes que atravessavam nossas
partes mais secas e áridas, em busca de nascentes mais profundas e limpas
dentro de nós mesmos.
Três imagens ficaram muito presentes:
· os
ipês – que no auge da agonia da seca, choram flores;
· a
ecdise e o canto das cigarras – o abandono das velhas estruturas e o canto
eufórico em busca de seus pares, em épocas que o período da chuva se anuncia;
·a
revoada das 'aleluias' –que também saem da terra, aladas e frenéticas,
em busca de um perfeito acasalamento.
As
três imagens tinham algo em comum, que nos era precioso enquanto imagem
poética: uma forte relação com a terra e a busca dos céus, a sublimação da
vida. Ficamos mais atentos a qualquer ipê florido de Goiânia, aprendemos a
contemplar beleza nas coisas áridas. E quando ouvimos uma cigarra, ou quando
presenciamos uma revoada de aleluias, bate um alívio: a chuva está chegando...
Aleluia! Uma mistura de fé na vida com uma saudade...
Os ipês nos contavam - pelas suas floradas - da
importância dos tempos áridos, as cigarras e aleluias cantavam os segredos da
esperança e da fé.
Para
nós, tais imagens eram metáfora da peregrinação humana, em busca do essencial,
em busca do sagrado. Era
nossa caçada começando a surgir...E no umbigo dessa
busca, desta caça, as águas jorravam e as emoções transbordavam.
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