domingo, 18 de agosto de 2013

Paisagens cerradas

   No início do processo de pesquisa de Paisagens Corporais, um dos aspectos que nos chamou bastante atenção foi essa peculiaridade do Cerrado ser o berço das águas do país. De dentro de um coração quase racha em períodos de secas jorram águas azuis e cristalinas que se alastram e nutrem terras por todo o Brasil. Sutilmente, esta imagem-sugestão do Cerrado como berço das águas começou a nos despertar um sentimento de 'busca', e fomos conduzidos por peregrinações internas e subjetivas, lançando novas raízes que atravessavam nossas partes mais secas e áridas, em busca de nascentes mais profundas e limpas dentro de nós mesmos. 


   Três imagens ficaram muito presentes:

· os ipês – que no auge da agonia da seca, choram flores;

· a ecdise e o canto das cigarras – o abandono das velhas estruturas e o canto eufórico em busca de seus pares, em épocas que o período da chuva se anuncia;

·a revoada das 'aleluias' –que também saem da terra, aladas e frenéticas, em busca de um perfeito acasalamento.

      As três imagens tinham algo em comum, que nos era precioso enquanto imagem poética: uma forte relação com a terra e a busca dos céus, a sublimação da vida. Ficamos mais atentos a qualquer ipê florido de Goiânia, aprendemos a contemplar beleza nas coisas áridas. E quando ouvimos uma cigarra, ou quando presenciamos uma revoada de aleluias, bate um alívio: a chuva está chegando... Aleluia! Uma mistura de fé na vida com uma saudade...  

      Os ipês nos contavam - pelas suas floradas - da importância dos tempos áridos, as cigarras e aleluias cantavam os segredos da esperança e da fé. 

     Para nós, tais imagens eram metáfora da peregrinação humana, em busca do essencial, em busca do sagrado. Era nossa caçada começando a surgir...E no umbigo dessa busca, desta caça, as águas jorravam e as emoções transbordavam.


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