sábado, 9 de fevereiro de 2013

DESENHANDO A PAISAGEM COM OS PÉS


Desenhando a Paisagem com os pés


Quando Érica me convidou para essa parceria dentro de PAISAGENS, os pés foi o primeiro trabalho corporal escolhido para auxiliar na elaboração e desenvolvimento do inventário no corpo, bem como do processo de criação vigente. Considerado raízes desse corpo mastro, pronto para a dança, os pés possuem uma intima relação com a terra a partir de seus múltiplos apoios gerando um alinhamento de toda a estrutura óssea e muscular obedecendo os seus desenhos espiralados. Apoios esses, que no trabalho de sugar, amassar, mastigar, devolver e revolver, espalhar, dão inicio ao processo de descortinamento de toda uma paisagem que circunscreve nossa memória, gerando movimentos genuinos. E foram esses múltiplos apoios que trabalhamos em nosso primeiro encontro.

Para esse trabalho inspirado no Método Bailarino-Pesquisador-Intérprete (BPI) desenvolvido pela Artista e pesquisadora Graziela Rodrigues (http://www.iar.unicamp.br/~graziela/), são considerados apoios as partes dos pés que atuam no movimento, estabelecendo diferentes tipos de contato com o solo, imprimindo determinada força em flexão, extensão e rotação de diferentes graus. Essa linguagem dos pés gerada pelos seus apoios envolvem principalmente as articulações tíbio-társica e coxo-femurais.

Assim, trabalhamos os seguintes apoios:


metatarso, dedos, calcâneo, dorso do pé, bordas lateral e medial. 

As diferentes combinações de apoios e os esforços empregados geraram dinâmicas distintas de movimentação. Aqui, consideramos três tipos de esforços empregados na relação com o chão: 

Minimo, onde o contato é realizado de superfície, onde realizamos uma passagem pelos apoios dos pés.Muitas vezes em um deslocamento mais acelerado; 

Médio, um contato um pouco maior com o solo, mas as raizes estão soltas. Isso acontece quando se impulsiona os pés para um salto mas deixando no solo a força concentrada; e finalmente;

Maximo, quando há uma penetração no solo. A imagem da ventosa está nesse tipo de esforço.

Para Graziela Rodrigues, além desses três esforços existem outras gradações que participam de uma dinâmica de movimento. A predominância de um dos esforços é considerado dentro do Método BPI como uma característica importante para a leitura de um movimento e seus significados dentro da dança. Isso porque, a qualidade da utilização dos pés ressoa em todo o corpo, conduzindo e traçando caminhos para serem percorridos por esse corpo integralmente.
...
Agora, dentro de uma caminho ainda a ser descoberto, os pés iniciam um movimento como que buscando saber qual paisagem de uma história que deseja nos contar. Articulando seus apoios, em um deslocamento ainda tímido, ao som de uma viola ao fundo, os pés mostram a quantidade de mémorias que esses dois corpos carregam. São quintais inteiros, cheiro de terra molhada, bolo, biscoito, postura de tios, avós e bisavós, festejos, danças, rezas, brincadeiras, caminhos... Paulatinamente, pelo movimento que se toma, os pés descortinam uma paisagem inteira gerando giros, sons, saltos e caminhadas. 

Existem muitas paisagens a serem descortinadas por esses pés cheios de histórias. Eles anseiam por contar todas elas... o que hoje eles nos querem contar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário